Telecentro leva internet aos deficientes visuais

(Do portal da Agecom)

No mundo dominado pelas tecnologias, acessar a internet faz parte da rotina de milhões de pessoas. Se para muitos essa parece ser uma tarefa simples, para os deficientes visuais o uso dos computadores ainda é um caminho cheio de obstáculos. Um grande passo rumo à democratização da informação para este público foi dado nesta quinta-feira, dia 18, com a inauguração do Telecentro, em uma sala no prédio da Biblioteca Marieta Teles Machado, situada na Praça Cívica, no Centro de Goiânia.
O projeto é pioneiro no Estado de Goiás e é um marco na política de inclusão social, integrando também uma ação do Plano Estadual dos Direitos das Pessoas com Deficiência - Goiás Inclusivo. Dez computadores e uma impressora foram adquiridas pelo Ministério das Comunicações e Banco do Brasil, ao custo de aproximadamente R$ 100 mil. Para viabilizar a implantação do sistema digital, a Secretaria da Cultura (Secult) firmou convênio com a Associação dos Deficientes Visuais de Goiás (ADVEG), ficando responsável por ceder o espaço para abrigar a sala de informática e também pela manutenção dos equipamentos.
Cerca de 1,5 mil associados da ADVEG em Goiânia e frequentadores da Biblioteca Braille José Álvares de Azevedo, também no interior da Biblioteca Marieta Teles Machado, terão a chance de ampliar os seus conhecimentos, agora também utilizando ferramentas da rede mundial de computadores. O chefe de gabinete da Secult, Ney Borges, representou o secretário Gilvane Felipe, na solenidade de lançamento. Segundo ele, o Telecentro representa o mundo de novas possibilidades para os deficientes visuais.
"Acreditamos que esse projeto é uma grande conquista da ADVEG. O Alisson (Azevedo, presidente da associação) vem lutando incansavelmente para promover a inclusão social dos deficientes visuais e estamos satisfeitos de podê-lo ajudar neste momento. Ele irá proporcionar atividades essenciais para o nosso dia a dia como o acesso à internet, realização de pesquisas, leitura de jornais e revistas e comunicação com o mundo virtual, além do suporte no ensino à digitação disponibilizada pelo braille. Então, essa é uma grande conquista", afirma.

Telecentro integrado com a Biblioteca Braille

O Telecentro vai funcionar de segunda à sexta-feira, das 8 às 18 horas. Para navegar na internet, os usuários contarão com o auxílio de softwares especializados, a maioria programas de download gratuito que fazem a leitura da tela dos computadores habilitados com sistemas operacionais Linux e Windows. Um exemplo é o Digitavox, desenvolvido pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Os deficientes visuais terão, portanto, que utilizar os fones de ouvido para ouvir a voz sintetizada que lê/narra as palavras escritas na tela. O Telecentro será integrado com a Biblioteca Braille José Álvares de Azevedo, sediada desde 1992 no prédio da Praça Cívica e cujo acervo totaliza cerca de 3 mil títulos das literaturas brasileira e estrangeira.
A coordenadora da Biblioteca Braille, Maria Eunice Soares Barbosa, diz que a forma da pessoa com deficiência visual ter acesso à informação é através das tecnologias. "O sistema braille é o básico, mas depois a pessoa precisa ter acesso à informação através da internet, através de material digitalizado para ler no computador com os programas de síntese de voz e o Telecentro vai proporcionar isso porque as pessoas poderão vir e ter esse contato com a informática, desenvolver as suas habilidades para ler, acessar a internet, fazer os seus contatos. É uma forma de abrir novos horizontes", pontua.
Eunice explica que o Telecentro é aberto à comunidade de deficientes visuais e de uso gratuito. Os novos usuários deverão fazer o cadastro para a Biblioteca e um subcadastro para o Telecentro. Se os usuários já tiverem noções de informática e quiserem utilizar os equipamentos, poderão ficar à vontade. Caso contrário, eles serão treinadas por cinco voluntários associados da Adveg, que já estão trabalhando desde fevereiro na Biblioteca Braille.
O presidente da Associação dos Deficientes Visuais do Estado de Goiás, Alisson Azevedo, analisa que será ampliado o conhecimento dos deficientes visuais que já frequentam a biblioteca ou que se tornarão novos leitores. "Eles virão para utilizar os computadores do Telecentro, mas ao lado fica a Biblioteca Braille. Então, essas pessoas vão ter a possibilidade de acesso aos livros, à cultura, à arte ao conhecimento de uma forma ampla. Nós estamos muito felizes com esse projeto do Telecentro. Podemos dizer hoje que as tecnologias existentes para deficientes visuais já são razoavelmente boas. O problema não é mais a tecnologia, mas democratizar o acesso a essas tecnologias e o Telecentro vai contribuir muito para isso", comenta.
Alisson acrescenta que o uso dos computadores deverá ser adequado à realidade de cada um dos usuários. "Vamos fazer um trabalho de envolver a comunidade em torno dessas pessoas, além das pessoas com deficiência visual, também suas famílias para que venham buscar as suas necessidades. Se for para usar Linux, baixar músicas da internet, ler livros em formato digital, qualquer que seja o aprendizado. Não tem um compromisso formal. O Telecentro visa atender as necessidades de cada pessoa. Se isso evoluir para um curso de informática, para uma perspectiva mais profissionalizante, excelente. Mas, a princípio, o nosso objetivo é promover o contato do conhecimento com a informática", finaliza.
Força de vontade faz a diferença
"Se o deficiente visual tem força de vontade de aprender, se torna fácil. Nada é impossível pra gente, né?" A frase otimista é do estudante Alcir Mendes de Oliveira, que ficou cego há 17 anos. O ex-carpinteiro sofreu acidente de trabalho. Um prego se soltou atingindo o olho esquerdo dele. Depois, ele teve glaucoma no olho direito e hoje só tem 2% da visão.
Inconformado com a nova vida, ele teve depressão. "Era difícil aceitar a situação porque eu trabalhava para ganhar o sustento da família". Hoje, Alcir que recebe o Benefício de Assistência Social ao Idoso e ao Deficiente (Loas) do INSS, conta com a ajuda de amigos, está estudando e batalhando para mais tarde conseguir um emprego e dar um conforto maior para a família. Ele já se tornou assíduo na Biblioteca Braille e almeja um emprego na área de Administração e acredita que o Telecentro pode dar um empurrãozinho nesse objetivo.
"O Telecentro é algo que caiu do céu para a gente. Hoje a internet é uma ferramenta essencial até mesmo na área de trabalho. Aqui a gente tem as pessoas que nos auxiliam, nos ensinam algumas coisas que a gente ainda não sabe. O Telecentro vai ajudar bastante e ser muito útil porque eu quero conseguir um emprego em Administração. Já frequento há alguns dias a biblioteca e essa experiência está sendo gratificante. Estou tentando aprender o máximo que eu posso, aproveitando essa oportunidade. Quero ir mais a fundo e, quem sabe, mais adiante ter um diploma do curso de informática para melhorar o meu currículo".